Monday, January 22, 2018

O Pacto

    Paulo se perguntava por que estava fazendo aquilo, talvez fosse uma decisão precipitada, talvez fosse melhor tentar algo mais seguro para ganhar dinheiro.

    _ O que você está esperando? ATIRA!!! _ Gritou Miguel.

    Enquanto Paulo olhava fixamente para o dinheiro ele lembrava de sua filha chorando todas as noites, pois não havia o que jantar e ela estava com muita fome, mas não era culpa dela.

    Talvez fosse culpa da crise que levou Paulo a perder seu emprego de empacotador em um supermercado de seu bairro. Não era um grande emprego, mas o salário era suficiente para pagar as contas e sustentar sua filha pequena.

    _ Pega logo esse dinheiro porra, você não está vendo que eles vão nos matar? _ Disse Miguel.

    Paulo e Miguel tinham um pacto, eles marcaram de assaltar um banco juntos, alguns milhões de reais resolveriam o problema de Paulo com a pobreza, muitos entram no mundo do crime por desespero, afinal Alice, filha de Paulo, não tinha o que comer há alguns dias e se Paulo não fizesse algo arriscado a situação não mudaria tão cedo.

    Sua esposa ainda tentou fazê-lo mudar de ideia sobre o assalto, porem o fato de não arrumar um emprego desde o nascimento de Alice fez com que Paulo aceitasse a proposta de Miguel. Mas talvez fosse melhor até mesmo um pacto com o próprio Diabo, que ainda seria mais confiável do que Miguel.

    Enquanto Miguel roubava todos os reféns, Paulo junto com os capangas de Miguel abriam o cofre e retiravam todo o dinheiro, eles estavam fortemente armados e ninguém ousava reagir.

    Antes que eles pudessem fugir a polícia chegou atirando contra eles. Miguel em uma troca de tiros com a polícia mata um dos policiais enquanto gritava com Paulo para agilizar o assalto.

    Os capangas de Miguel morreram baleados na troca de tiros, vários reféns foram mortos, pois Miguel quis mostrar o erro da polícia ao entrar atirando no banco.

    _ O que você está esperando? ATIRA!!! _ Gritou Miguel.

    _ Eles são apenas inocentes, não vou mata-los. _ Respondeu Paulo.

    _ Foda-se o que você pensa deles. Eu vou matar cada um aqui dentro até achar aquele desgraçado que chamou a polícia. _ Disse Miguel apontando a arma para os reféns.

    Neste momento um tiro atinge o ombro de Miguel que carregado por Paulo consegue escapar com boa parte do dinheiro. Eles fogem para a casa de Miguel no alto do morro e Paulo começa a dividir o dinheiro, enquanto Miguel com uma mão no ferimento do ombro e outra na arma a aponta para Paulo dizendo:

    _ Meu velho amigo, uma vida toda de amizade, mas o assalto não saiu como o esperado, roubamos bem menos do que tínhamos combinado. Para compensar a sua incompetência no assalto ficarei com todo o dinheiro.

    _ Mas não foi isso que combinamos, eu preciso desse dinheiro, minha filha está passando fome em casa e eu não saio daqui sem esse dinheiro. _ Respondeu Paulo.

    _ Então não terei escolha a não ser te matar, foi um prazer trabalhar com você e nos vemos no inferno. _ Disse Miguel enquanto atirava em Paulo sem piedade.

    Duas semanas se passaram e Amanda, esposa viúva de Paulo não conseguia arrumar emprego devido a necessidade de cuidar de Alice, que ainda era muito pequena e incapaz de se cuidar sozinha, Amanda estava sozinha, não tinha família e nenhum amigo para se oferecer para ajudar.

    Miguel estava fazendo uma festa no morro com o dinheiro do assalto e logo um de seus capangas veio lhe informar que havia um homem querendo conversar com ele.

    _ Quem quer falar comigo? _ Perguntou Miguel curioso.

    _ Ele não quis se identificar, mas disse que é sobre o último assalto e o cara que você matou. _ Respondeu o capanga.

    _ Matem ele AGORA!!! _ Gritou Miguel.

    Momentos depois Miguel ouvi um de seus capangas correndo e atirando com sua metralhadora, aquele homem parecia não ser atingido pelas balas. Então o homem pega o capanga pelo pescoço e arranca sua garganta.

    Miguel já em desespero correu em meio à multidão descontrolada em direção ao lugar que escondeu o dinheiro. Ele tentou fugir, mas em vão, pois o homem o encontrou.

    _ Mas isso é impossível, você está mo...morto. _ Gaguejou Miguel.

    _ Há muito mais coisas do que o mundo que conhecemos, nada disso que você tem hoje será levado junto com você. _ Disse o fantasma de Paulo.

    _ Eu posso dar muito dinheiro para sua família, posso tira-los da pobreza se quiser. _ Argumentou Miguel, tentando uma espécie de negociação.

    _ Eu vou levar todo esse dinheiro para elas, pois para onde você vai agora não precisará mais disso. Eu me vingarei de você seu desgraçado. _ Disse Paulo.

    _ Você não vai conseguir me matar, eu te mandarei de volta ao inferno, de onde você nunca deveria ter saído. _ Disse Miguel enquanto disparava todas as suas balas em vão contra Paulo.

    Paulo sorriu quando as balas de Miguel acabaram e disse:

    _ Você conhece a Lei de Talião? Olho por olho, dente por dente. _ Disse Paulo enquanto desaparecia na escuridão.

    _ O que isso significa? _ Foram as últimas palavras de Miguel.

    Paulo reapareceu bem diante dos olhos de Miguel o jogando no chão e antes que ele pudesse reagir começou a arrancar seus olhos enquanto Miguel gritava de dor.

    _ Agora sem os olhos você não poderá cobiçar nada que não lhe pertence. _ Disse Paulo gargalhando e cuspindo dentro das órbitas escuras e ensanguentadas que antes ficavam seus olhos.
Paulo então começa a arrancar dente por dente de Miguel dizendo:

    _ Enquanto minha filha passava fome você fazia banquetes com seus fiéis capangas e suas vadias, cada dente representa uma lágrima da minha filha que você derramou por sua ganância. _ Disse Paulo tomando cuidado para manter Miguel vivo até o fim da tortura.

    _ Por fim você tirou de mim o que eu mais amava, poder estar ao lado de minha família, agora tirarei o que você mais ama, seu dinheiro e todos os seus bens materiais, você viveu por eles e agora morrerá por eles. _ Disse Paulo enquanto pegava o saco de dinheiro e colocava sobre os ombros e ateava fogo em todo o resto dos bens de Miguel.

    Miguel estava sem os olhos e incapaz de sair do incêndio, que em pouco tempo consumiu tudo o que pode alcançar, inclusive Miguel que se debatia no chão em meio as chamas.

    No dia seguinte Amanda ouve a campainha de sua casa e ao abrir a porta se depara com um saco cheio de dinheiro, havia mais do que ela pudesse imaginar. Junto ao dinheiro havia uma carta escrita com a letra de Paulo.

    Na carta dizia:

    "Me deixe pedir desculpas pelo que fiz, no desespero de te ver sem emprego e nossa filha sem ter o que comer me cortou o coração, não suportei aquela noite que ela não parava de chorar de fome, cada lagrima que escorria por seu rosto era uma facada em meu coração. Perdão amor, por eu não poder te dar o futuro que você merecia e, desculpa filha, pois você crescerá sem seu pai ao seu lado, mas saiba que de alguma forma eu sempre estarei ao seu lado para o que precisar, onde eu estiver estarei cuidando de você e sua mãe."
Ao ler esta carta os olhos de Amanda se encheram de lágrimas, pois ela sabia que seu falecido marido de alguma forma havia deixado aquele dinheiro ali e que ela e sua filha jamais passariam necessidade outra vez.

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