Monday, February 5, 2018

Demônio da Depressão parte 2 : João Vitor

Não muito tempo depois de fazer sua última vítima o demônio da depressão encontrou seu próximo alvo. João Vitor era uma criança muito triste e solitária, não tinha amigos e era completamente ignorado dentro de casa por seus pais que trabalhavam incessantemente para pagar as contas da casa.

Os anos se passaram e João foi crescendo em meio a toda aquela solidão, porém ele não era ignorado na escola, não que isso fosse algo bom, muito pelo contrário, ele sofria bullyng diariamente, aqueles que eram para serem seus amigos o agrediam fisicamente e verbalmente.

_ Vem aqui Joaninha, agora você vai ser uma mocinha comportada e vai me obedecer. _ Disse um dos valentões.

_ Eu não sou uma mocinha e não vou fazer o que você quer. _ Respondeu João.

_ Eu não estou pedindo, ESTOU MANDANDO seu viadinho de merda. _ Gritou o valentão enquanto socava a barriga de João e o fazia cair no chão agonizando de dor.

_ O que está acontecendo aqui meninos? _ Perguntou a professora vendo aquela situação.

_ Nada, o João apenas tropeçou e eu tentei segura-lo. Não é mesmo João? _ Disse o valentão em tom de ameaça.

_ Sim professora, eu apenas tropecei e cai. _ Respondeu João com ânsia de vômito e olhando bem para a professora, ele sabia que ela viu o soco na boca do estômago e mesmo assim não fez nada para ajuda-lo.

Naquela noite foi a primeira vez que João o viu.

_ Olá meu rapazinho, as crianças que me chamam estão ficando cada vez mais jovens. _ Disse a criatura parecendo rir da situação.

_ Quem é você? _ Perguntou o garoto morrendo de medo daquela monstruosidade em meio a escuridão de seu quarto.  

_ Você deveria saber quem sou, pois você mesmo que me chamou. _ Disse a criatura se aproximando e saindo da escuridão.

_ Eu não te chamei. SAI DAQUI!!! _ Gritou João chorando ao ver as enormes garras da criatura.

_ Calma minha criança, eu não vou te machucar, pelo menos por enquanto. _ Respondeu a criatura com enorme tranquilidade em meio ao desespero de João.

_ Eu sei exatamente o que se passa em sua mente, você sabe que a situação não vai melhorar. Ninguém te ama, ninguém se importa com você e seus pais trabalham como loucos para pagar as despesas com você, ou você pensa que é fácil bancar uma mocinha como você. _ Disse a criatura debochando ao ver as lágrimas que escorriam pelo rosto do garoto.

_ Isso não é verdade, VAI EMBORA!!! _ Disse o garoto entre soluços.

_ Isso é o que você quer acreditar, mas você sabe muito bem a verdade, ninguém aceita seu jeito diferente de ser na escola e seus pais te culpam todos os dias por ter nascido na hora errada e ter estragado seus sonhos da juventude. _ Disse a criatura mostrando as garras acima da cama.

_ Por favor não me machuque. _ Disse João assustado se cobrindo e tentando de uma forma inocente se proteger do monstro.

_ Você mesmo irá se machucar. Sei que é isso que você quer para se livrar dessa dor do seu coração. Vamos, faça isso, é a única forma de suportar essa dor que está sentindo. _ Disse a criatura entregando uma lâmina para a pobre criança que já estava sem esperança.

João então pega a lâmina e pela primeira vez de muitas corta seu pulso, que naquele mesmo instante começa a sangrar. Mesmo com a dor do corte João se sentia aliviado, pois aquela dor de alguma forma amenizava a dor que estava sentindo dentro de si todos aqueles anos. Foi então que esta triste rotina se iniciou todas as noites pelos próximos meses.

O tempo passou e João com o acúmulo de cortes em seus pulsos passou a tentar outras formas de se distrair daquela dor, o que ele mais gostava de fazer era jogar na internet, pois assim esquecia toda a sua triste realidade.

Em uma partida online João encontra um garoto e passa a jogar com ele diariamente, sua amizade ficava cada vez mais forte, talvez agora ele não precisasse mais se cortar, aquela amizade era tudo o que ele mais precisava naquele momento.

Os dias se passaram e João começou a sentir algo diferente, algo que nunca sentiu antes por ninguém, ele só sabia que aquele garoto o fazia se sentir assim, era como se borboletas voassem em seu estômago.

_ Mas como isso seria possível? _ Se perguntava João.

Talvez isso explicasse seu jeito diferente, ele sempre se sentiu desconfortável com a ideia de precisar se apaixonar por uma menina um dia.

_ Será então que eu posso realmente gostar de meninos? _ Pensou João agora com um sorriso no rosto imaginando que ele e aquele garoto podiam ser mais do que amigos, o que João sentia por ele era puro e verdadeiro.

Algumas semanas mais tarde João preparava o que dizer para o garoto que agora fazia parte de todos os seus pensamentos felizes. O bullyng que sofria todos os dias pareciam bem menos dolorosos psicologicamente, mesmo que fisicamente ainda sofresse as agressões e voltasse machucado da escola.

João já com o discurso preparado abre o chat do jogo, vê que seu amigo está online e logo o convida para jogar com um enorme sorriso sincero no rosto.

_ Oi Gabriel, você joga bem kkkk Eu preciso te falar uma coisa. _ Digitou João no chat meio apreensivo com a situação.

_ Pode falar, saiba que se alguma coisa ruim te acontecer pode sempre contar comigo, eu sou seu amigo e sempre estarei aqui para o que precisar, até quando quiser alguém para jogar com você kkk. _ Respondeu o garoto no chat.

_ Que bom você dizer isso, porque eu preciso te contar uma coisa séria e quero que você fique do meu lado. _ Digitou João, enquanto suava frio em seu quarto pensando qual seria a reação do seu amigo ao saber da notícia.

_ Pode falar. _ Respondeu o garoto.

_ Já faz um tempo que eu venho sentindo isso, não sei se você sente a mesma coisa por mim, é como se o único momento feliz do meu dia fosse aqui com você e de fato é. Eu sinto algo muito forte dentro de mim que não consigo controlar. EU TE AMO!!! Não sei mais o que fazer se não tiver mais você em minha vida, eu quero que sejamos mais do que amigos. _ Digitou sem conseguir controlar a emoção com o coração batendo a mil dentro do peito.

_ Você ficou louco. SEU VIADINHO DE MERDA!!! Nunca mais venha falar comigo, eu nunca mais vou jogar com uma bixinha como você seu LIXO!!! É por isso que ninguém gosta de você, quem iria gostar de ficar perto de um BOSTA como você. Some da minha vida. ADEUS!!! _ Respondeu pela última vez antes que ele bloqueasse João e nunca mais entrasse em contato com o pobre menino.

João estava arrasado, com apenas dez anos de idade ele acabava de sofrer sua primeira desilusão amorosa, no entanto isso estava longe de terminar.

Naquela noite seu pai encontrou a conversa de João com o garoto em seu computador. João levou a maior surra de toda a sua vida, seu pai nunca o bateu com tanta força enquanto sua mãe apenas gritava e chorava.

_ Eu não acredito que você é esse viadinho que escreveu essas coisas horríveis, espero que seu pai te bata até você virar homem. Não te criei para você dar esse seu cu por ai seu merda. Se for preciso eu te interno porque isso só pode ser loucura da sua cabeça, ou então vou te levar na igreja para tirar esse demônio que ta te corrompendo e te transformando nesse monstro. _ Dizia a mãe enquanto chorava.

_ Eu sou um monstro? Vocês que são monstros por me tratarem desse jeito, vocês nunca me escutam quando eu digo que apanho na escola, além de me ignorarem completamente dentro de casa. Eu só queria me sentir amado uma vez na vida, nem isso vocês fazem como meus pais. Por que vocês não me amam? _ Disse João aos prantos e soluços segurando os braços de sua mãe desolada com a situação.

Sua mãe naquele momento finalmente percebe os pulsos cortados de João e o manda para o quarto de castigo enquanto tentava entender tudo aquilo que estava acontecendo de uma só vez.

João se tranca em seu quarto chorando muito enquanto a criatura sai novamente da escuridão e se aproxima calmamente dele.

_ Que coisa horrível seus pais fizeram com você!!! E aquele seu melhor amigo que você depositava toda a sua confiança estava mentindo para você!!! _ Disse a criatura fingindo uma falsa indignação, mas sorrindo por dentro.

_ Sai daqui!!! Você é a última pessoa que eu quero perto de mim agora. _ Disse ele enxugando as lágrimas.

_ Por que mentir para si mesmo minha criança? Você sabe que me quer aqui, senão eu não estaria aqui agora. _ Disse a criatura sorrindo.

_ Eu ainda tenho que te mostrar mais uma coisa. _ Disse o demônio entrando na mente daquela pobre criança e mostrando como seu amigo estava depois da discussão.

O garoto estava em uma festa na casa dos amigos, se divertindo e sorrindo como se nada tivesse acontecido naquele mesmo dia.

_ Está vendo mocinha, ninguém realmente se importa com você e todos os que dizem o contrário estão mentindo para você. _ Disse o demônio agora com um rosto sério olhando João chorar.

_ Eu não aguento mais toda essa dor. FAÇA ISSO PARAR!!! _ Chorava e gritava João vendo o enorme sorriso com dentes afiados daquele demônio.

No dia seguinte sua mãe arrependida com a noite passada tenta entrar no quarto, mas a porta estava trancada, seu pai então a arromba e encontra seu filho jogado no chão em meio a poça de seu próprio sangue.

A mãe de João não parava de chorar, pensando em todas as coisas horríveis que disse ao seu próprio filho antes dele cometer suicídio. O pai de João, que agora se encontrava ajoelhado junto ao corpo de seu único filho, chorava e pedia perdão pelos erros que cometeu.

Em cima da cama dele havia um bilhete manchado de sangue, que dizia:

"Desculpa pai, por não ser o filho que você esperava que eu fosse. Desculpa mãe, por eu ter estragado sua vida desde o dia que eu nasci, sei que tudo isso foi minha culpa e agora eu fui embora para sempre, vocês não terão mais com que se preocupar, eu não serei mais um desgosto na vida de vocês. Considere minha escolha como um último presente, pois agora vocês poderão viver a vida que tanto queriam sem mim. Eu só queria que vocês me amassem. Adeus pai e mãe, espero que vocês sejam mais feliz agora sem mim. "

Nesse momento o pai de João abraçava o corpo do seu filho o mais forte possível enquanto a mãe amassava a carta com ódio de si mesma por ter contribuído para aquilo.

Poucos minutos depois chegou a ambulância com a polícia, que confirmou o suicídio ao encontrar a lâmina usada pelo menino jogada no chão próxima a poça de sangue deixada por ele.

Muitas vezes os próprios pais contribuem, mesmo que de forma inconsciente e sem intenção, para agravar a depressão dos filhos. Demonstrem amor e compaixão pelos seus filhos. Cuidem do seu bem mais precioso de suas vidas antes que seja tarde demais. Não permitam que este demônio faça parte da vida dos seus filhos, nem mesmo das suas.

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