Nunca nos preocupamos com nossas
florestas, exploramos cada vez mais os recursos naturais e agora a floresta
está se vingando de nós. A lenda diz que ele é um demônio que vive nas
florestas evitando que nós a destruamos.
Acho que a crueldade humana com
natureza se tornou tão grande que Deus talvez tenha permitido que um dos
demônios saísse do inferno para nos atormentar.
No começo éramos em 15
trabalhadores, estávamos ilegalmente desmatando a floresta amazônica quando encontramos
uma tribo indígena que nos alertou sobre o demônio que habita a região.
_ Vocês não sabem o perigo que
estão correndo destruindo este lugar. _ Disse o cacique me olhando como se
estivesse implorando.
_ Muitos além de nós devastam este
lugar, você não pode nos impedir, todas essas árvores nos renderão uma fortuna.
_ Respondi com uma voz firme, mostrando autoridade perante o que ele dizia.
_ Ele vai matar todos vocês,
ninguém jamais sobreviveu na presença dele. _ Disse o cacique me segurando em
meus ombros e olhando diretamente no fundo dos meus olhos.
_ Você está falando do curupira?
Isto é apenas folclore. Ninguém acredita em seres que habitam a floresta
protegendo-a. _ Respondi rindo da preocupação do cacique.
Depois de nossa conversa mandei que
destruíssem a tribo e matassem todos os índios, para que não houvessem
testemunhas da nossa presença neste lugar. Porém, antes que cortassem sua
cabeça com um machado o cacique me disse algo em sua língua que não pude
entender e depois completou:
_ Agora vocês estão todos
amaldiçoados. Jamais conseguirão sair dessa floresta, seus corpos nunca serão
encontrados!!! _ Dizia o cacique gargalhando sadicamente, como se toda a sua
sanidade não existisse mais.
A gargalhada cessou quando sua
cabeça rolou próxima a seu corpo. Fiquei completamente arrepiado, pois naquele
mesmo momento o clima esfriou drasticamente e estávamos com uma terrível
sensação de estarmos sendo observados.
Naquela noite tudo começou, a maldição
do cacique estava perto de se concretizar. Um dos lenhadores voltava correndo
da mata gritando:
_ EU VI ELE!!! ELE EXISTE!!! Vamos
embora daqui.
_ Então como ele era? _ Perguntei
em tom sarcástico, totalmente descrente de seu relato.
_ Ele parecia um menino com cabelo
vermelho. _ Respondeu o homem tentando controlar seu desespero.
_ Depois disso você acordou e
descobriu que estava dormindo entre as árvores? _ Perguntei rindo da situação.
_ Não imbecil. Eu estou falando
sério! _ Respondeu ele.
_ Do que você me chamou? Saiba que
eu não estou aqui de brincadeira, ou você esqueceu que estamos aqui
ilegalmente? Você por acaso quer passar o resto de sua vida na prisão? _ Disse
a ele, furioso com sua atitude.
_ Prefiro a prisão a ficar preso
aqui para sempre com aquele demônio. _ Disse ele começando a arrumar suas
coisas.
_ Você não pode simplesmente ir
embora. Eu sou o único aqui que dá ordens e você vai me obedecer. _ Disse a ele
pegando suas coisas e jogando no chão.
_ Não preciso da sua ajuda para
sair desta floresta, vou usar o GPS do meu celular. _ Disse ele tirando o
celular do bolso.
_ Não vai mais! _ Respondi jogando
seu celular no chão, vendo-o despedaçar.
_ Alguém ainda pode me emprestar o
celular. _ Disse ele olhando para todos ao redor, que com a discussão pararam o
que estavam fazendo.
_ Boa ideia!!! Por que você não
pede então? _ Disse a ele em tom sarcástico, pois já sabia a resposta dos
outros.
_ Eu não vou te emprestar meu
celular, ninguém aqui vai. Você pode muito bem denunciar o que estamos fazendo
aqui. _ Respondeu Marcos, falando por todos ali presentes.
_ Eu não vou ficar aqui para
morrer. Encontrarei o caminho por conta própria. _ Disse ele pegando suas
coisas e sumindo entre as árvores.
_ COVARDE! _ Gritei para que ele
ouvisse mesmo tão longe.
Mal sabia eu o erro que estava
cometendo ficando naquele lugar. Novamente senti um calafrio percorrendo minha
espinha e pude observar uma estranha movimentação na mata próxima à direção que
Vinicius partiu.
Nos dias seguintes mais
trabalhadores se queixaram da aparição de um menino de cabelos vermelhos em
meio às árvores, em momento algum acreditei que realmente poderia ser o
Curupira, mas com tantos relatos decidi averiguar a hipótese de que realmente
teria alguém na floresta nos observando enquanto derrubávamos mais árvores.
Na tarde daquele dia fomos mais
para o interior da floresta, em uma região que ninguém havia estado em busca
desse ser que nos “assombrava”.
_ Procurem por qualquer coisa
suspeita, pegadas roupas ou qualquer vestígio que um garoto pode deixar. _ Eu
disse sem imaginar que pudéssemos realmente encontrar algo que prove sua
existência.
Entretanto um deles encontrou
pegadas, elas eram pequenas e havia sido feitas por pés descalços. Decidimos
segui-las até encontrarmos seu legítimo dono.
Após meia hora de caminhada
conseguimos chegar a sua origem embaixo da sombra de uma árvore. Procuramos por
toda parte esse tal de Curupira, mas não encontramos, nem mesmo no alto das
árvores.
Voltamos para o acampamento agora
assustados com as pegadas que vimos dentro da floresta. Ficamos ainda mais
assustados quando vimos que as mesmas pegadas estavam espalhadas por todo
lugar.
_ Mas o que houve aqui? _ Perguntei
assustado antes que um forte cheiro podre tirasse meu foco da bagunça e visse o
que estava logo atrás do acampamento.
Ao lado da minha barraca estava a
cabeça decepada de Vinicius com o machado enfincado eu sua testa, em meio a
todo aquele sangue estava escrito na terra:
“Ele tentou avisar, mas agora é
tarde”.
Completamente aterrorizado com a
cena eu disse para que todos arrumassem suas coisas o mais rápido possível para
que eles fossem embora antes mesmo que anoitecesse.
Todos obedeceram e logo partiram do local, deixando até mesmo parte do
equipamento para trás pela pressa. Todavia em um trecho da estrada havia uma
enorme árvore caída que impedia a passagem dos carros, o que os obrigou a
prosseguir caminhando em meio à floresta.
_ Se formos caminhando por esta
estrada chegaremos ao fim dela apenas pela manha, se cortarmos caminho pela
floresta podemos chegar antes de escurecer. _ Disse Marcos.
_ Nem pensar eu entro nessa mata
com aquela criatura atrás de nós. _ Respondi vendo todos seguindo Marcos entre
as árvores.
Decidi então segui-los para não
continuar a viagem sozinho, lembrando o que havia acontecido com Vinicius.
Porém algo estava errado, não importava o quanto caminhávamos parecíamos sempre
voltar para a mesma árvore que marcamos com um canivete depois da terceira vez
que passamos por ela.
_ Eu desisto de continuar pela
floresta, vou voltar para a estrada. _ Eu disse a Marcos que agora concordava
que teria sido melhor continuar pela estrada.
Todos passaram a me seguir no
caminho de volta para a estrada, mas nunca conseguimos encontra-la novamente,
continuamos voltando para a mesma árvore.
Nesse momento nem mesmo o GPS sabia
em qual direção seguir, foi quando ouvimos uma risada baixa vinda de trás de
uma árvore.
_ Quem está ai? _ Perguntei quase
gaguejando.
Ele saiu de trás daquela árvore e
enfim pude vê-lo com meus próprios olhos. Ele possuía a altura de uma criança,
cabelo vermelho e os pés eram virados para trás, o que explica o porquê não
conseguimos encontra-lo antes. Não estávamos o procurando no fim de sua trilha,
mas no começo.
O Curupira não disse nenhuma
palavra, mas antes que eu pudesse pensar em correr ele pulou em cima de Marcos
e pegou o machado que estava em suas mãos.
Minhas pernas pareciam paralisadas
enquanto presenciava aquela cena, com uma voracidade o Curupira esquartejava
Marcos, membro a membro. Os gritos de agonia só sessaram quando o machado
cortou sua cabeça, assim como ele fez com Vinicius.
Terminando o que havia feito com
Marcos aquele demônio olhou diretamente em meus olhos, seus olhos eram negros
como a noite, ele sorriu e correu atrás dos outros que já haviam se espalhado
pela mata.
Minhas pernas finalmente decidiram
me obedecer e comecei a correr para qualquer direção longe dele, corri o mais
rápido que pude, mas a cada quilômetro que percorria eu encontrava mais corpos
e membros decepados espalhados pelo chão.
Naquele momento todo o chão estava
pintado com o vermelho do sangue das vítimas dele. Eu entrei em pânico quando
vi o último dos corpos completamente mutilado, o que indicava que eu era o
único sobrevivente.
Certamente ele me encontrará e me
matará, posso ouvir o jeito que o mato se move, parece que ele está perto, não
posso deixar que esta história seja esquecida.
Dias depois a polícia encontra
apenas a cabeça de Gabriel, em meio ao seu sangue estava mergulhado seu celular
já sem bateria, porém ele foi levado para ajudar na investigação do caso.
Depois de carregado o perito do
caso encontra uma mensagem de texto que não chegou a ser enviada, de acordo com
a investigação o horário da mensagem coincide com a hora da morte de Gabriel.
Na mensagem dizia:
“Ele está atrás de mim. Não tenho
muito tempo, ele vai me matar assim como fez com todos os outros. Tenho que
fazer esta mensagem chegar às autoridades para dizer que a lenda do Curupira é
real. No entanto a história real é muito mais macabra, na vida real a única
coisa que realmente importa para ele é ter sua cabeça como um troféu. Ele me
encontrou, ele está sorrindo para mim enquanto se aproxima. Ele vai...”
A mensagem terminava sem Gabriel
ser capaz de terminar o que escrevia, enquanto aos outros permanecem
desaparecidos, a única coisa que a polícia encontrou antes que arquivassem o
caso foi o machado ensanguentado embaixo de uma árvore que estava marcada por
cortes de canivete, junto a uma trilha de pegadas que parecia vir do meio da
floresta e terminava no local.
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