A partir deste momento eu assumirei a
narração desta história, vocês não precisam saber meu nome verdadeiro, mas me
chamem de Martin Luther King, sou o motorista de confiança da vereadora e faço
parte do grupo que Tiradentes reuniu para o crime que entrará para a história.
Não posso contar sobre nosso grande roubo
sem antes contar sobre o dia que quase coloquei tudo a perder por uma falsa
acusação. Naquele dia cheguei ao nosso local das reuniões secretas e chamei
Tiradentes para ver o que passava na TV.
_ Veja isto! Não posso acreditar no que
vejo, eu sou inocente!!! _ Eu afirmava com as mãos em minha cabeça tentando
explicar para Tiradentes o que estava acontecendo.
_ Era o seu carro na cena do crime, você
foi a última pessoa a estar naquele carro antes do crime, além de que você não
tem um álibi. É óbvio que a polícia vai suspeitar de você. _ Respondeu
Tiradentes tentando manter a calma.
_ Temos que pegar o verdadeiro monstro que
estuprou aquela menina de oito anos. Para mim isto é o que mais importa. _ Eu
disse dando um soco na mesa de Tiradentes.
_ É muito nobre de sua parte querer ajudar
a polícia descobrir o verdadeiro culpado, mas minha função é apenas te livrar
dessa suspeita da polícia, depois será trabalho deles desvendarem o restante do
caso. _ Respondeu ele tentando me acalmar.
_ Eu vou ligar para Vargas e ele será seu
álibi, todos sabem que a palavra de um policial é mais confiável em uma
investigação. Nem pense em ir ver a menina ou fazer algo que levante a suspeita
da polícia. _ Disse ele olhando seriamente no fundo dos meus olhos e me fazendo
lembrar tudo o que está em jogo.
O primeiro passo da policia foi me
interrogar, no intuito de me fazer cair em contradição e tentar conseguir uma
confissão.
_ Onde o senhor estava no dia do crime? _
Perguntou o policial.
_ Eu estava com seu colega, estávamos
tomando um café juntos quando ouvi alguém ligando meu carro e fugindo com ele.
_ Respondi lembrando-me de tudo o que Tiradentes me disse para contar.
_ Seu carro foi encontrado em um terreno
abandonado próximo do local, as únicas impressões digitais encontradas foram as
suas e as da vereadora e, de acordo com a vítima, o crime foi cometido por um
homem. _ Respondeu o policial segurando sua arma para tentar me intimidar.
_ Eu já disse tudo o que tinha para dizer.
Se quiser alguma outra informação por que não pergunta ao seu parceiro? _ Disse
ao policial sarcasticamente, antes de me retirar da sala do interrogatório.
Naquele momento decidi investigar o caso
por conta própria, indo contra tudo o que Tiradentes havia me dito, mas eu
precisava de certa forma vingar o que aconteceu com a pobre menina.
A única pessoa do grupo que aceitou me
ajudar foi princesa Isabel, que convivia comigo diariamente na câmara e podia
investigar possíveis suspeitos, alguém que também tivesse acesso à chave do
carro, visto que ele não possuía sinais de arrombamento ou ligação direta.
Os únicos que possuíam acesso à cópia dessa
chave eram a vereadora, o prefeito do Rio de Janeiro e o governador, facilitando
nossas buscas por pistas.
Logo saiu o resultado de DNA do corpo de
delito feito na menina, o que me levou a ser considerado inocente quando
aceitei retirar um pouco de meu sangue para provar minha inocência.
A polícia decidiu com isso arquivar o caso,
por não haver mais suspeitos, no veredito foi concluído que alguém roubou meu
carro enquanto eu estava na cafeteria com Vargas e utilizou-o para cometer o
estupro.
De fato a polícia estava certa quanto a
isto, mas eu estava disposto a descobrir qual dos meus dois suspeitos havia
cometido tal atrocidade, comecei então pelo governador.
_ Prazer governador. Como vão as coisas? O
senhor parece meio preocupado com algo. _ Perguntei a ele na porta de sua casa.
_ É
um prazer sua visita. Sim, estou preocupado com uma coisa, mas agora com a
conclusão da polícia arquivando o caso estou mais tranquilo. _ Respondeu ele
segurando meu ombro e sorrindo.
_ Você sabe quem poderia ter feito isso? _
Perguntei imaginando uma resposta sarcástica do possível culpado.
_ Foi uma infelicidade para aquela menina,
mas agora isso já é passado. _ Respondeu ele completamente tranquilo.
_ Eu acho que foi você que estuprou aquela
menina. Confessa para que eu possa acabar com você. _ Eu disse segurando-o pelo
colarinho, pronto para soca-lo até que ele perdesse a consciência.
_ Como você pode me acusar disto? Estamos
juntos no mesmo barco esqueceu? Se você cair eu caio também. _ Respondeu ele
furioso me empurrando.
Naquele momento me lembrei dos esquemas de
corrupção e desvio de verba pública que eu estava envolvido com o governador e
como eu poderia coloca-lo na prisão se eu fosse preso.
_ Então se não foi você eu sei quem foi.
Desculpa pelo incômodo. _ Me desculpei arrumando a camisa do governador e
discretamente retirando um fio de cabelo dele que havia em sua camisa.
_ Jamais me acuse de nada! Eu posso não ser
honesto, mas lembre-se que você também não é. _ Respondeu voltando para dentro
de sua casa e batendo a porta na minha frente.
Saindo de lá fui diretamente para a casa do
prefeito, uma grande mansão na verdade, construída com todo o dinheiro público
que ele foi capaz de desviar. A vereadora me contou que o prefeito estava bem
alterado hoje e quase não falou com ninguém.
_ Olá prefeito, é um prazer estar na
presença de um estuprador pedófilo. _ Disse sarcasticamente como se zombasse da
impunidade do prefeito.
_ Como sabe que fui eu? Você não tem
provas, testemunhas ou qualquer coisa que possa me culpar. _ Respondeu ele
ligeiramente ansioso com minha acusação.
_ Vou provar que você é o culpado. Você foi
bem cuidadoso em seu plano, roubou o carro com a chave reserva que te dei
quando me tornei seu motorista também, sem precisar arrombar a porta ou fazer
ligação direta. Você usou luvas para que suas digitais não estivessem no carro.
_ Comecei a explicar a ele como descobri todo o seu plano.
_ Você não tem como provar isso. _
Respondeu ele tentando fechar a porta, mas foi interrompido pelo meu sapato que
estava na frente.
_ Espere, eu ainda não terminei. Eu havia
acaba de entregar a chave reserva para o governador um dia antes, ou seja, ele
ainda não havia entrado no carro e por isso não havia digitais, já você com a
desculpa de possuir misofobia sempre carregava um lenço com você e limpava tudo
o que tocava dentro do carro, por isso não havia digitais suas no carro. _
Terminei de contar o plano, desmascarando o prefeito.
_ Eu confesso, agora não faz mais
diferença, o caso foi arquivado mesmo. _ Disse ele rindo depois da minha
explicação.
_ O que um merda como você pode fazer?
Contar para a polícia? A polícia não vai acreditar em você sem provas, seria a
sua palavra contra a minha e eu posso pagar ótimos advogados para me defenderem.
_ Completou ele.
_ Eu vou te colocar na cadeia, nem que para
isso eu tenha que acabar com você e levar o que sobrar de você arrastado até a
delegacia. _ Eu disse enquanto fechava os punhos e um ódio indescritível
começava a me consumir.
Começamos a brigar, diversos socos e golpes
no rosto do prefeito mancharam minhas roupas com seu sangue, confesso que
também apanhei um pouco, mas ates que a briga terminasse e o prefeito fosse até
a delegacia para me acusar de agressão ele ainda disse algumas coisas que me
ofenderam muito.
_ Você é um merdinha de um motorista negro
que deu muita sorte de sair da sua favela com sua família morta de fome, a
vereadora só te contratou por ela ser negra e lutar contra o racismo. _ Disse
ele cuspindo no meu rosto.
_ Então além de estuprador, pedófilo,
corrupto você ainda é racista? _ Perguntei indignado com o que estava ouvindo e
limpando aquela saliva de meu rosto.
_ O que você vai fazer sobre isso? Seu
macaco vai correndo pro IBAMA e me processa por maus tratos aos animais. _
Disse ele enquanto gargalhava.
_ Agora isso virou pessoal, não vou te
levar a delegacia e sim a um cemitério seu verme. _ Respondi socando ele
diversas vezes no rosto.
Antes que eu terminasse de matar o prefeito
a polícia chegou, acionada pelos vizinhos e nos levou a delegacia. Chegando lá
O prefeito logo começou a mentir e contar sua parte fictícia da história.
_ Este louco está me agredindo sem nenhuma
causa aparente, provavelmente deve estar drogado ou bêbado. _ Disse ele ao
policial.
_ Você até poderia acreditar nele se eu não
tivesse provas concretas dos crimes que ele cometeu. _ Eu disse sorrindo
retirando o gravador de meu bolso, o mesmo que gravou todos os ataques racistas
do prefeito contra mim.
Por ironia, ou não, o policial que nos
interrogava também era negro e logo deu um soco no prefeito e disse que ele
iria apodrecer na cadeia.
_ Ainda não acabei. Ele também foi o
estuprador da menina de oito anos na semana passada e este sangue em minhas
roupas pode provar isto. _ Disse retirando a camisa e entregando para a perícia
analisar.
Naquela mesma noite a polícia confirmou que
o prefeito havia sido o estuprador e logo o prendeu, sem direito a fiança, não
apenas pelo crime de estupro e pedofilia, mas também pelo crime de racismo.
Depois de todo ocorrido e o término do caso
vou ao encontro de Tiradentes na mesma cafeteria do dia do crime, visto que a
polícia ainda podia estar vigiando nossos movimentos.
_ Você ficou louco? Você sabia que você
podia estar preso agora por agredir um prefeito e um governador. Se a polícia
não tivesse chego na hora você o teria matado. _ Disse Tiradentes olhando muito
sério para mim, como se estivesse perguntando o que eu tenho na cabeça para
fazer algo tão arriscado.
_ Eu
apenas fiz a coisa certa, agora aquele monstro terá o que merece na prisão. _
Respondi firmemente convicto do que dizia.
_ Eu admiro o que você fez, sua coragem
colocou o prefeito atrás das grades, mas da próxima vez não banca o herói, você
sabe muito bem tudo o que está em jogo aqui. _ Tiradentes me disse com um
sorriso discreto e me abraçando.
Enquanto isso, na prisão o prefeito era
incessantemente estuprado e violentado todos os dias pelos 17 presos que
dividiam a sela com ele.
_ Agora é minha vez de foder com esta
vadia. _ Dizia um dos presos gargalhando.
_ O segurem. _ Disse o preso pegando um
chinelo.
_ Vamos garantir que quando ele sair daqui
não fará mal a mais ninguém. _ Disse o preso dando diversas chineladas no pênis
do prefeito, com tanta força que começou a sangrar e o sangue escorria pelo
chão da sela.
Fiquei sabendo quando saiu a notícia na TV
que o prefeito teria morrido por hemorragia depois de tal ocorrido. Com isso
voltamos ao nosso planejamento do maior roubo da história.
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