Não posso deixá-la morrer, esse não pode ser o destino da minha filha, ela é apenas uma criança.
Eu prometi a ela que não deixaria o pior acontecer.
Tudo começou tão derrete, estávamos de férias na praia quando Ana
começou a sentir falta de ar, seu corpo foi ficando cada vez mais fraco, foi
quando percebi que poderia ser algo grave.
Chegando ao hospital ela foi logo atendida, mas comecei a me preocupar
ainda mais quando vi o médico pedindo uma tomografia, aquilo só podia significar uma coisa.
O médico diagnosticou Ana com câncer no pulmão em estágio avançado, a única coisa que poderia salva-la seria um transplante de pulmão.
Naquele momento nossas férias haviam acabado, pois com a notícia voltamos para
São Paulo para tratar Ana. Minha esposa era médica cirurgiã e sabia melhor do que eu lidar com a doença de nossa filha.
– Vamos ter que esperar na fila de transplante até encontrarmos um doador compatível. Agora só nos resta ter
fé. – Disse ela tentando parecer calma.
– Isto pode levar uma eternidade, não podemos esperar tanto tempo, é a vida de nossa filha que está em
risco! – Eu disse impaciente, tentando encontrar alguma
solução.
Não podemos fazer nada, apenas esperar e rezar. – Ela insistiu para que eu
mantivesse a calma.
– Eu vou morrer pai? – Ana me perguntou chorando.
– Não vou deixar isto acontecer. Eu prometo! – Respondi a ela, vendo aquela cena que me cortava o coração, uma
menina tão doce que sonhava em ser médica como a mãe agora vai ter que lutar para viver.
Com o passar dos dias e semanas logo completou o primeiro mês de
espera, o estado de Ana não estava nada bem, mas estávamos fazendo todo o
tratamento de acordo com a ordem do médico.
Foi quando completaram dois meses que meu desespero começou, Ana piorou muito na semana passada e o médico disse que o tempo dela
estava se esgotando, talvez este fosse o fim dela.
– Se sua filha não receber um novo pulmão ela ainda tem cerca de quinze dias de vida. – Disse o médico.
– Não tem nada que possamos fazer? – Perguntei tentando ter alguma esperança de que Ana ficaria bem.
– O câncer já se espalhou por todo o pulmão, inclusive eu recomendo que ela seja hospitalizada em estado de
observação, visto que ela pode piorar a qualquer momento. –
Respondeu o médico, acabando com qualquer esperança que ainda nos
restava.
– Eu vou ficar bem, papai me prometeu! – Disse ela sorrindo para o médico e abraçando seu coelho de pelúcia
favorito.
A coisa mais triste que já vivenciei foi ver uma criança tão nova como minha filha nesse estado, apenas 8 anos e o
médico dizendo que ela estava com os dias contados, mas ainda sim ela mantinha a esperança no que eu a prometi.
– Sim filha, pode contar comigo. Não importa o que o médico diga, você vai viver custe o que custar. – Eu disse a Ana pegando em sua mão e saindo
do consultório ignorando completamente a recomendação do
doutor.
Foi quando a maior loucura de minha vida passou em minha cabeça, vou matar alguém e pegar seu pulmão, minha esposa tem acesso ao banco
de dados do hospital e vai descobrir alguém com um pulmão compatível com a nossa filha.
Isso era uma completa loucura, ela encontrou um garoto saudável que era exatamente o que estávamos procurando. O jovem Miguel de 12 anos não imaginava o que lhe esperava.
Ele estava voltando da escola sozinho, de acordo com seus registros
ele não morava longe, mas ainda sim ofereci uma carona, muito relutante o garoto acaba aceitando entrar no carro quando eu
disse que era amigo de seus pais e que sabia onde ele morava.
Assim que entrou no carro peguei o pano com clorofórmio e fiz ele desmaiar, quando Miguel
recobrou a consciência ele estava amarrado em uma maca pronto para a cirurgia.
– Tudo pronto para começarmos? – Perguntei a minha esposa que estava
muito nervosa com a situação.
– Acho que sim, mas temos um problema, temos apenas anestesia que consegui pegar no hospital para nossa filha, Miguel vai ter que estar acordado enquanto
você retira seu pulmão. – Disse ela se sentindo um monstro pelo que ela estava fazendo.
– Não se sinta assim. Logo teremos nossa filha de volta. Você sabe que esta é a
única chance que ela tem de sobreviver. – Eu disse a ela.
– Mas não é justo tirarmos a vida de outra pessoa para salvar nossa filha. – Disse ela ainda relutante para fazer a cirurgia.
– Também não é justo que a nossa pequena Ana tenha câncer. EU NÃO POSSO DEIXÁ-LA MORRER!!! – Eu disse quase a ponto de surtar com a situação.
Ela anestesiou nossa filha para que não olhasse enquanto eu assassinava Miguel. Eu peguei a faca da nossa cozinha e abri cuidadosamente o peito de Miguel, que se debatia e gritava em desespero vendo seu pulmão ser arrancado
diante de seus olhos.
Antes que a cirurgia terminasse a polícia arromba a porta da frente, guiada pelo rastreador no celular de Miguel. Vendo a situação do corpo mutilado dele e a faca ensanguentada em minhas
mãos a polícia não hesitou em atirar. Mas antes que eu deixasse este mundo pude dizer minhas últimas palavras.
– Não posso deixá-la morrer!
O caso foi encerrado como um crime macabro feito por pais desesperados
para salvar a vida de sua filha, entretanto ambos morreram baleados durante a invasão da polícia, enquanto a
menina sobreviveu com o novo pulmão.
No fim consegui cumprir minha promessa, eu a salvei, mesmo que isto
custasse a minha vida e a de minha esposa. Talvez isto jamais precisaria ter acontecido se mais pessoas fossem
doadoras de órgãos. Não culpe apenas os pais desesperados da pequena Ana.
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