Monday, March 19, 2018

Transfobia, violência desenfreada

    Essa história, mesmo que triste e assustadora, ainda teve seus bons momentos antes de tudo mudar.~

    _ Eu te amo Manoel!!! _ Disse Paloma acariciando o rosto de Manoel.

    _ Eu também te amo amor!!! _ Respondeu Manoel, que em meio a todo aquele clima romântico deslizava sua mão pelo corpo de Paloma.

    Paloma não era como todos pensam, ela nem ao menos nasceu como Paloma, aos seus 18 anos Marcos sentia que algo estava errado consigo, ele não aceitava sua condição.

    _ Esse não sou, há algo de errado comigo! _ Repetia para si mesmo diante do espelho todos os dias.

    Com o tempo ele descobriu seu verdadeiro eu, Marcos havia se tornado Paloma e estava muito mais feliz assim, enfim ele se reconhecia ao se olhar no espelho e se orgulhava por ter tomado coragem e escolher o caminho que o fazia feliz.

    Aos 23 anos Paloma conheceu Manoel e logo eles se apaixonaram, Manoel logo foi atraído pela bondade no coração de Paloma, que mesmo sofrendo preconceito diariamente ainda mantinha o afeto e compaixão com todos os que a tratavam bem.

    _ Oi, meu nome é Manoel, eu sou novo aqui na cidade. _ Disse Manoel.

    _ Oi, percebi que você é novo na cidade, nunca tinha visto alguém tão bonito aqui antes. _ Respondeu Paloma sorrindo meio sem jeito, imaginando qual seria a reação de Manoel.

    _ Nós poderíamos conhecer melhor a cidade juntos, o que você acha? _ Perguntou Manoel, encantado com Paloma.

    _ Eu gostei dessa ideia, que tal às oito da noite na frente do bar do Zé aqui perto? _ Respondeu Paloma escrevendo seu número na mão de Manoel.

    Dias se passaram desde aquele encontro e os dois estavam cada vez mais apaixonados um pelo outro, mas em uma noite tudo mudaria e toda essa felicidade logo acabaria.

    Paloma estava em frente àquele mesmo bar esperando por Manoel quando seis pessoas se aproximaram, dois homens e quatro jovens que logo começaram a espancar Paloma, que não ao menos sabia o motivo da agressão.

    _ Por que vocês estão fazendo isso comigo? O que eu fiz para merecer isso? _ Perguntava Paloma em meio aos socos e chutes dos agressores.

    Um dos agressores tirou o celular do bolso e começou a gravar, enquanto outros dois pegavam objetos que encontravam no local para bater em Paloma.

    _ Vai baitola do caralho!!! Vai apanhar até morrer, quem mandou você ser viado desse jeito seu merda. _ Um dos agressores dizia enquanto espancava Paloma.

    _ Eu nunca fiz mal a ninguém. POR FAVOR DEIXA EU IR EMBORA!!! _ Gritava Paloma em meio ao desespero e as fortes dores pelo seu corpo que estava sendo brutalmente agredido.

    Um deles apareceu com um carrinho de mão e logo começou a gritar:

    _ SOBE NESSA MERDA SUA BICHA!!! Vamos te tirar daqui e te levar para o lugar que você merece, O INFERNO!!! 

    Paloma ainda tentava rezar de alguma forma enquanto um pedaço grande de madeira era atirado sobre seu rosto diversas vezes.

    _ Deus não vai te salvar, muito pelo contrário, ele vai te condenar por você ser um verme. Você gosta de sair por ai dando o cú, agora você vai ter o que merece, vou te ensinar a virar homem na base da porrada. _ Disse o agressor com o pedaço de madeira.

    Uns chutavam seu rosto, outros davam chineladas em seus braços e até mesmo pauladas na cabeça, com o rosto todo ensanguentado Paloma pode ver seus últimos momentos de vida quando Manoel estava correndo em sua direção para tentar salvá-la.

    _ Alô, polícia, eu quero fazer uma denuncia, estão agredindo uma pessoa aqui e se vocês não mandarem uma viatura para cá rápido temo que o pior aconteça. _ Disse Manoel ao celular enquanto corria atrás dos agressores.

    Eles pegaram Paloma e colocaram no carrinho, tentaram levá-la para outro lugar, mas assim que Manoel se aproximou para impedi-los um dos agressores sacou a arma e efetuou vários disparos contra Paloma, que morreu logo que chegou ao hospital. Antes de fugir o assassino ainda disse a Manoel.

    _ Considere-se com sorte, pois você também merecia esses tiros por defender esse tipo de aberração.

    Dias depois a polícia encontrou os responsáveis pelo crime, eles foram julgados e "condenados", se assim pode ser chamada a "punição" leve pelo crime que os jovens receberam.

    O homem que estava filmando todo o ato já era procurado pela polícia por tráfico de drogas e o reconheceu pela voz durante o vídeo. Ele assim como o outro homem que também participou do crime estão presos, já os jovens passaram seis meses cumprindo medidas socioeducativas e foram soltos.

    Manoel reconheceu um dos jovens, o mesmo que efetuou os disparos em Paloma e decidiu se vingar, visto que a justiça não o faria pagar pela morte de Paloma. O nome dele era José e agora estava solto novamente.

    O choro de Judite na entrevista da tv encheu o coração de Manoel de ódio, Judite apenas queria entender o que leva pessoas tão cruéis a torturarem e matarem sua única filha, ela só implorava por justiça.

    Com todo esse ódio consumindo cada vez mais os pensamentos de Manoel, ele decide ir ao encontro de uma velha amiga, Débora, uma jovem que assim como Paloma também era trans.

    Sem querer alimentar o esteriótipo feminino, mas aparentava perfeitamente uma mulher cis, e usando isso a seu favor para armar uma armadilha contra José, ele e Débora preparam o plano perfeito de vingança.

    José e seus amigos estavam em uma balada da cidade, entre um copo e outro de vodka José conhece Débora, que logo o afasta de seus amigos para ficarem mais a sós.

    Enquanto isso Manoel começou uma conversa com um dos amigos de José que não o reconheceu do dia do crime.

    _ Tem muita mina gostosa nessa balada não é? _ Disse Manoel.

    _ Tem mesmo, mas cuidado com aquelas que parecem ser o que não é, se é que você me entende. _ Disse o jovem rindo e bebendo.

    _ Você fala de mulheres trans? _ Perguntou Manoel.

    _ MULHERES TRANS? Você quis dizer aberrações da natureza. _ Respondeu o jovem rindo e batendo com o cotovelo no braço de Manoel, esperando que ele também risse da situação.

    _ Aberrações da natureza são pessoas que pensam como você. _ Disse Manoel fazendo o mesmo gesto que o jovem.

    _ Você é viado é? Por que para pensar desse jeito. _ Perguntou o jovem.

    _ Não seria gay por pensar assim, o seu amigo também gosta de transar com pessoas trans. _ Respondeu Manoel olhando seriamente para ele.

    _ Isso não é verdade, ele assim como nós lutamos contra essa viadagem que está acabando com o mundo e exterminamos o máximo desses vermes que conseguimos. _ Respondeu o jovem furioso com o que Manoel havia dito de José.

    _ Se não acredita vai lá ver com seus próprios olhos. Ele está com uma trans nesse exato momento e saio de perto de vocês para que ninguém descobrisse. _ Disse Manoel terminando de tomar sua bebida e saindo da presença daqueles jovens.

    Quando os amigos de José o encontraram ele estava nos amassos com Débora, que logo viu a chegada deles e abriu as pernas e abaixou a calcinha, mostrando seu pênis para eles.

    _ Então é verdade, você é assim como essas aberrações! _ Disse um dos jovens ao José sem conseguir acreditar no que estava acontecendo.

    _ Eu não sabia que essa coisa era homem. Acreditem em mim. _ Implorou José.

    _ Agora vamos ter que fazer com você o que todos os vermes como você merecem. _ Respondeu o jovem, que junto com os outros arrastaram José para fora da balada.

    Do lado de fora todos começaram a bater em José, quando as pessoas ao redor começaram a tentar impedir a agressão eles explicaram que aquele era o assassino de Paloma e as pessoas apenas assistiram a execução pública de José.

    Entre os socos que José recebia alguns de seus dentes começaram a cair com a violência que apanhava, sua mancha de sangue no chão estava cada vez maior enquanto outro jovem o chutou tão forte que ele quebrou o nariz de José.

    Ainda consciente José implorava por piedade, mas em vão.

    _ Você não teve piedade com ninguém, por que teríamos de você? _ Respondeu o jovem antes de pegar os cabelos de José e bater repetidas vezes seu rosto no asfalto.

    Nesse momento José estava completamente deformado e irreconhecível, mas sua tortura estava apenas começando, Manoel assistiu atenciosamente cada soco e cada chute que José levava, apenas esperando ansiosamente pelo golpe final.

    Um dos jovens que agrediam José saca a arma e aponta para a cabeça dele dizendo:

    _ Agora você vai passar o resto da eternidade pagando pelo seu maior erro, SE MISTURAR A ESSES VIADOS DE MERDA!!! _ Gritou o jovem enquanto disparava diversas vezes em José, que morreu na hora.

    Logo após toda essa brutalidade a polícia chega e prende os jovens pelo assassinato de José, enquanto Débora e Manoel voltaram a se divertir na balada para comemorar o sucesso na vingança.

    Os dois jovens dessa vez foram condenados a prisão por já terem completado os 18 anos e finalmente iriam pagar pelos seus crimes. Moral da história: "Quem dentre vós não tiver pecado, atire a primeira pedra". 

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